Aline Torres
Mais um episódio de racismo e intolerância, no dia 09 de novembro, marcou a cidade plural de Foz do Iguaçu. Sim, eu sei que todo mundo comentou o acontecido. Então, para que continuar falando sobre tema?.
Um senhor, já conhecido no bairro Vila “C” diz ter jogado veneno em um grupo de crianças uniformizadas, que ensaiavam maracatu numa praça pública do bairro. Ele tentou se retratar publicamente, afirmando que era água e não veneno o que ele jogou nos estudantes. O que para mim não muda nada, pois no vídeo vemos e ouvimos ele falar que era veneno, causando um terror psicológico nos estudantes e no professor.
O fato está dado, e agora está nas mãos das autoridades competentes, vamos esperar e ver se a justiça será feita. Mas não podemos deixar um caso desses terminar sem as devidas reflexões e, claro, punição. Mais e hoje? E amanhã? E depois? Este caso estará esquecido, e só vamos lembrar dele quando acontecer de novo.
Precisamos sim falar sobre intolerância, preconceito, racismo. Não só no mês de novembro, como é de costume. Este fato foi mais um, entre tantos que acontecem no nosso país, em nossa cidade. O episódio na Vila C foi mais uma mostra do que está acontecendo na sociedade. Estamos cada vez mais intolerantes, preconceituosos e conservadores, racistas. Não aceitamos o diferente e isso tem me assustado a cada dia mais.
O que aconteceu com os alunos de maracatu não foi somente uma questão do som alto, perturbação do sossego alheio. O que aconteceu foi a não aceitação do diferente. O maracatu é um som específico, que tem história, e não é uma história qualquer. É cultura, é resistência, e é forma de resistência de um povo que sempre foi desrespeitado, discriminado e deixado à margem da sociedade.
E o espaço que grupos como o Ponto de Cultura Maracatu Alvorada Nova vem tomando na sociedade vem incomodando a dita “família tradicional brasileira”, pois estão tendo que assistir tudo aquilo que eles tentaram negar, marginalizar. Não deve estar sendo fácil para eles ter que aceitar que cultura não é somente aquilo que eles pregam.
Saber que existe o diferente, todo mundo sabe. Agora respeitar os espaços do outro é tarefa difícil para mentes atrasadas, que querem manter privilégios.
Relato dos moradores e pais de alunos da oficina na Vila C narram que na mesma pracinha onde os estudantes estavam aprendendo maracatu, em outros momentos, é usada como pontos de uso de drogas, mas o tal morador nunca fez nada com relação a isso.
O maracatu faz barulho? Faz sim senhor. Mas antes um aprendizado histórico cultural barulhento do que um silêncio incômodo da drogadição.
Esse é mais um desabafo sobre tudo o que está acontecendo na sociedade e que anda cansando até mesmo os mais fortes guerreiros que lutam por uma sociedade mais ju.sta.
Aline Torres é professora da rede estadual, secretária de Promoção da Igualdade Racial e Combate ao Racismo da APP-Sindicato/Foz.