O governo mentiu de forma deslavada ou não sabe fazer contas. É possível que ambas alternativas estejam corretas.
Por APP Estadual
Após deixar educadores(as) no limbo por dias a fio quanto à expectativa salarial em janeiro, o governo publicou sem fazer barulho as novas tabelas salariais para professores(as) e funcionários(as).
Os valores estão na edição de 17 de janeiro do Diário Oficial. Para funcionários(as), há a mudança prevista: 3% de reposição. Para professores(as), no entanto, há um abismo entre o anunciado e o realizado.
Na prática, Ratinho Jr. e Feder promoveram um reajuste linear de 3% em toda a tabela, incluindo o salário de ingresso.
Por exemplo: o vencimento básico do Nível I / Classe I (40h) – utilizado como referência para PSS – passa de R$ 2.888,2 para R$ 2.974,82; um “reajuste” de R$ 86,62.
Mesmo considerando a interpretação criativa do Estado para o significado de “Piso”, que inclui no cálculo o auxílio-transporte (R$ 842,54) e a nova gratificação (R$ 800), chegamos ao valor de R$ 4.617,36.
Mas foram inúmeras as manifestações públicas do governador e do secretário propagandeando que “nenhum professor do Paraná receberá menos do que R$ 5.545”.
Está no site da Seed – antes e depois da aprovação da Lei -, na Agência do Estado de Notícias, em vídeos e em todos os veículos de imprensa, que reproduziram o valor sem questionar.
Só há uma conclusão possível: o governo mentiu para a categoria e para a sociedade paranaense, alegando um reajuste de 48,7% que nunca existiu. Pior: fez do número fictício uma arma para jogar a opinião pública contra os(as) educadores(as).
A diferença entre níveis na nova tabela também não corresponde ao que está na Lei, sugerindo que o governo não encontrou uma forma de equacionar os valores prometidos e os índices alterados no Plano de Carreira.
Outro ponto a se destacar é que o salário de ingresso (Licenciatura Plena) está muito aquém do Piso Nacional previsto pela CNTE para 2022, de R$ 3.845,34. Embora o governo federal – aliado de Ratinho – trabalhe para zerar o reajuste, o tema segue em disputa.
Como em outros anos, o governo também se furta de aplicar o Piso nos níveis preconizados pela Lei do Piso, para professores(as) com formação no Magistério (Ensino Médio).
Além de frustrar a expectativa de valorização dos(as) trabalhadores(as), a folha de janeiro trará outras surpresas desagradáveis. Como o auxílio-transporte não é mais devido no período de férias, a categoria receberá ainda menos do que no mesmo período do ano passado.
Nós avisamos. O governador não apenas se negou a debater a proposta com o Sindicato – o que poderia evitar este vexame -, como se vangloriou de não dialogar com a categoria.
Desde o anúncio que motivou a greve de três dias, a APP fez todos os movimentos possíveis para denunciar as falhas do projeto e a impossibilidade de aplicar os valores previstos.
O Sindicato estuda a situação em profundidade e tomará todas as medidas necessárias para assegurar o pagamento do Piso Nacional. A luta pela Data-Base, uma dívida que já ultrapassa os 30%, também continua.
Os números não mentem. Já o governador Ratinho e o secretário Feder, sim. Cabe a eles explicarem à categoria e à sociedade o que aconteceu. Nós cobraremos.