Durante mobilização no Núcleo Regional de Educação em Foz do Iguaçu, categoria protocolou documento contra corte da carga horária das disciplinas; leia o dossiê pelas humanidades.
Professores(as) realizaram ato público no Núcleo Regional de Educação de Foz do Iguaçu (NRE), nesta segunda-feira, 18, para pedir a revogação da normativa do Governo do Paraná que corta pela metade a carga horária das disciplinas de Arte, Filosofia e Sociologia. Um dossiê pela manutenção dessas áreas do conhecimento nas escolas estaduais foi protocolado.
Leia o dossiê – parte 1
Leia o dossiê – parte 2
A iniciativa foi do Coletivo Humanidades, que reúne docentes de Arte, Filosofia e Sociologia, em conjunto com a APP-Sindicato/Foz. A mobilização ocorreu nas principais cidades paranaenses, onde estão sediados os núcleos regionais que representam localmente a Secretaria de Estado da Educação (Seed).
Se mantidas essas mudanças, instituídas sem diálogo com a comunidade escolar, cerca de um milhão de estudantes serão afetados. Eles terão cerceado seu direito à educação integral e humanista, dificultando o acesso desses jovens ao ensino superior, bem como serão prejudicados quanto às diferentes visões de mundo e à diversidade cultural.
Pelo menos dez mil professores(as) das três disciplinas de humanidades sentirão o impacto direto das alterações feitas sem diálogo pela Seed. Como efeito, educadores(as) serão sobrecarregados, ampliando de modo inviável a quantidade de turmas para cada docente e, deste modo, precarizando o trabalho pedagógico e comprometendo o processo ensino-aprendizagem.
“Com esse corte na carga horária, um(a) professor(a) deverá assumir pelo menos 30 turmas para dar conta de seu padrão, obrigando-se a atender cerca de 1.350 alunos(as). Isso é impraticável”, exemplifica Francielli Rubia Poltronieri, representante de Foz do Iguaçu no Coletivo Humanidades. O colegiado de Arte, Filosofia e Sociologia atua em todo o estado.
Ela afirma que será comprometida a condição do(a) professor(a) de elaborar sua aula com qualidade e de aplicar o conteúdo em sala, além do desemprego causado pela medida. “Educadores(as) temporários(as), os(as) PSSs, ficarão sem trabalho devido ao acúmulo de turmas entre os(as) profissionais que têm 40 horas semanais”, relata Francielli.
Já os(as) estudantes(as) deixarão de acessar conteúdos relevantes para a formação cidadã. “Essas disciplinas fazem com que o aluno sinta-se parte de uma sociedade, oferecem conceitos políticos, sociais e econômicos que são da vida, do dia a dia. E a compreensão da diversidade cultural leva ao respeito às diferenças, entre elas a de gênero, raça e religião”, ressalta.
Precarização da educação e do trabalho
Para a diretora da APP-Sindicato/Foz, Cátia Castro, o corte das disciplinas de Arte, Filosofia e Sociologia deteriora as condições da educação e do trabalho docente. A pedagoga destaca a importância dessas áreas do conhecimento para o desenvolvimento do senso crítico e o acesso de adolescentes e jovens à cultura e às artes produzidas pela humanidade.
“Essa decisão do governo precariza o pensar criticamente a sociedade em que vivemos, suas opressões e desigualdades. Esvazia um conhecimento que é tão necessário para as mudanças que devem ser feitas”, reflete a dirigente sindical. “Para o(a) professor)a), o que será o seu trabalho em sala de aula? Esse ataque torna a docência impraticável”, completa.
Ela critica a redução das aulas de humanidades para a introdução da disciplina de Educação Financeira. “Essa área pode e já vinha sendo trabalhada como conteúdo transversal, não tinha a necessidade de ser convertida em matéria. Querem tirar o conhecimento integral e humano dos(as) filhos(as) dos(as) trabalhadores(as), que estão na escola pública, para que eles(as) sejam mera mão de obra com salários baixos”, frisa Cátia.
Ciência e arte devem ser livres
Professora de Sociologia na rede pública, Louise Souza rememora que a disciplina é combatida em diferentes momentos da história. “É atacada sempre por governos autoritários. E neste período, o que a Sociologia debate como ciência vai contra os fundamentalismos. E a arte, do mesmo modo, é combatida por ideias moralistas”, avalia.
“A redução de disciplinas não é saída eficaz e não foi adotada em nenhum lugar do mundo em que a educação é valorizada e tratada como prioridade”, sublinha Louise. “Precisamos da ciência para enfrentarmos os absurdos que são colocados para a sociedade”, complementa a educadora.