Estudantes e professores(as) afirmam que a legislação atual reforça desigualdades entre jovens, o que exige a formulação de outro modelo.
Estudantes e professores(as) da rede estadual promoveram ato público para pedir a revogação do Novo Ensino Médio (NEM), nessa quinta-feira, 19, em Foz do Iguaçu. A mobilização faz parte da agenda nacional que reivindica a formulação de outro modelo, com a participação da comunidade escolar e da sociedade.
A organização foi do Comitê Revoga NEM, do qual a APP-Sindicato/Foz participa, juntamente com grêmios estudantis, universidades, coletivos de juventude, organizações sociais e partidos políticos. O entendimento é de que a legislação atual resulta de uma “antirreforma” de 2017, a qual impôs grandes prejuízos ao sistema de ensino público no país.
Para educadores(as) e alunos(as), o Novo Ensino Médio gera duas escolas distintas: uma para quem tem poder aquisitivo, de conteúdo universalista, e outra para as famílias dos segmentos sociais populares, privilegiando a formação de mão de obra para funções de baixa remuneração e formalização. O efeito seria aumento das desigualdades entre jovens.
“Não podemos admitir a continuidade desse modelo, que exclui, que não propõe formação crítica e humana, nem colabora para o ingresso no mundo do trabalho qualificado”, refletiu a presidente da APP-Sindicato/Foz, Janete Batista. “E o NEM ainda afasta o(a) estudante da rede pública do acesso à universidade”, completou.
Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que o Brasil possui 36% de adolescentes e jovens, entre 15 e 29 anos, fora da escola ou sem ter concluído o ensino básico. O país é o que obteve a maior taxa entre as nações pesquisadas pelo ente internacional.
“Precisamos construir juntos, comunidade escolar e sociedade, outro formato de ensino médio, que atenda aos anseios dos(as) estudantes e responda aos enormes desafios que temos”, defendeu Janete Batista. “Isso passa, sempre precisamos lembrar, por investimentos adequados na escola pública e valorização dos(as) educadores (as)”, concluiu.
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União dos estudantes
Egressa do Colégio Estadual Ayrton Senna da Silva, a estudante Daiane dos Santos é diretora de Formação Educacional do Grêmio Estudantil do Instituto Federal do Paraná (IFPR/Foz). Segundo ela, as entidades estudantis iguaçuenses estão unindo-se para debater e reivindicar a imediata revogação do Novo Ensino Médio.
“Estamos procurando nos unir, ouvindo os(as) secundaristas e nos organizando, porque é revoltoso ter que estudar sob esse modelo do NEM”, relatou a estudante durante o ato público em Foz do Iguaçu. “O movimento estudantil nos dá uma força maior, porque estamos sendo prejudicados por esse ‘rolê’ [Novo Ensino Médio]”, disse Daiane.
Nesse sentido de união entre os(as) estudantes(as), Jovana Farias, presidente do Diretório Estudantil Latino-Americano (DELA), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), expressou sua preocupação quanto à entrada dos(as) jovens no ensino superior. Ela ainda questionou determinados conteúdos que são incentivados com a vigência do NEM.
“O chamado Novo Ensino Médio dificulta a juventude de acessar as universidades”, avaliou a universitária. “E, em muitos casos, professores [com licenciaturas] e suas disciplinas são substituídos por profissionais não qualificados para apresentar conteúdos como ‘formação’ para o TikTok”, exemplificou Jovana.
Por outro ensino médio
O secretário-geral da APP-Sindicato/Foz, Ari Luis Jarczewski, citou as disciplinas nas áreas de humanidades, que são suprimidas com o NEM, e a redução no número de aulas de Português e Matemática. “É um modelo que não nos serve, por isso queremos construir o ensino médio com a cara da escola, que contemple os(as) filhos(as) dos trabalhadores(as)”, frisou.
Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/Foz), Sebastião Rodrigues Gonçalves fez uma relação entre os efeitos nocivos do NEM e os ataques ao ensino superior público. “Não são reformas, mas a deformação, inclusive humana, e infelizmente não é um caso só brasileiro”, pontuou o professor universitário.
Cronograma suspenso
O governo federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), suspendeu por 60 dias o cronograma nacional de implementação do Novo Ensino Médio, principalmente quanto a normas relacionadas ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Conforme o MEC, há a necessidade de revisão do processo relacionado à Política Nacional de Ensino Médio.