Estado abdicou de desenvolver o imunizante russo contra a covid-19. Além disso, Paraná tem R$ 200 milhões em caixa, mas não comprou uma dose de vacina.
Ratinho Junior (PSD) parece ter assumido de vez ser a versão “Bolsonaro de calça jeans”, mergulhando em profunda negação da realidade. Durante entrevista ao Bom Dia Paraná (assista), na manhã desta quinta-feira, 18, o governador afirmou que pretende cobrar gestores municipais para que a vacinação ganhe “velocidade”.
Após a nova promessa de que sairá à praça, com os governadores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em busca de vacinas contra a covid-19, ele deu a sua versão sobre o motivo da imunização ser tão lenta no Paraná. O estado está em colapso e bate recordes de mortes e de novos casos da doença: 776 mil paranaenses já foram infectados pelo novo coronavírus e 14.278 perderam a vida.
O governador não cobrou a incompetência do Governo Bolsonaro. Aliado de primeira hora do governo federal, que é acusado dentro e fora do país por atolar o Brasil em uma crise sanitária que já custa quase 300 mil vidas, Ratinho Junior preferiu apontar o dedo para os prefeitos ao tentar justificar a lentidão da vacinação no Paraná.
“A ideia é que a gente comece a cobrar, tanto dos prefeitos quanto dos secretários [municipais] de saúde, também maior velocidade [da vacinação], para que eles possam cobrar de suas equipes”, disse Ratinho Junior. As prefeituras, por ora, somente aplicam as doses recebidas do Governo do Paraná, oriundas Ministério da Saúde.
Ratinho Junior também não disse uma só palavra sobre o motivo de ter abdicado de desenvolver a vacina Sputnik V, por meio do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), a exemplo da parceria feita pelo Instituto Butantan para elaborar a CoronaVac. O acordo para a produção da vacina russa (leia aqui) no estado foi feito em julho de 2020.
O governo abriu mão da parceria sem justificar as razões, cedendo caminho para uma empresa lançar-se à produção da Sputnik no Brasil. Ratinho Junior teria desistido da vacina, prejudicando os paranaenses, para agradar seu aliado Bolsonaro, que privilegia o imunizante do laboratório AstraZeneca?
Matérias nos principais jornais brasileiros (leia aqui) apontaram que os Estados Unidos, durante a gestão de Donald Trump, pressionaram o Brasil a rejeitar a Sputnik V. As informações basearam-se em relatório do Departamento de Saúde dos EUA sobre as atividades de 2020.
A administração Trump, que foi aliada incondicional de Bolsonaro, “trabalhou para fortalecer os laços diplomáticos e oferecer serviços técnicos e assistência humanitária para dissuadir países da região de aceitar ajuda” de Cuba, Venezuela e Rússia. Os países são classificados no documento como “Estados mal intencionados”, diz o noticiário,
O Brasil é citado. “Exemplos incluem o uso do gabinete do adido de saúde do OGA para persuadir o Brasil a rejeitar a vacina russa contra covid-19”, diz a matéria assinada pelo Estadão Conteúdo. OGA é o escritório de assuntos globais do Departamento de Saúde dos EUA. O relatório do Departamento de Saúde foi publicado em 17 de janeiro, três dias antes do fim do mandato de Donald Trump.