Latifúndio das comunicações impede a democracia e a pluralidade de ideias
“A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa” (George Orwell)
Cinco empresas concentram mais da metade dos veículos de comunicação no Brasil. Quatro emissoras de televisão detêm 70% da audiência nacional. Grande parte dos grupos de comunicação pertencem a famílias, que transmitem a seus parentes a posse dos negócios e as concessões públicas. Esses são alguns dados do estudo Quem Controla a Mídia no Brasil, elaborado pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.
A radiografia estudou os 50 principais veículos de televisão, rádio, jornal, revista e internet no país. A conclusão é que os interesses dos donos da mídia impedem a pluralidade de ideias, pensamentos, opiniões, valores, culturas e visões de mundo. O que se vê na mídia está sob controle – e de acordo com o interesse – de “uma elite econômica formada por homens brancos”, diz o Intervozes.
Os 50 meios de comunicação reunidos na pesquisa pertencem a 26 grupos ou empresas de comunicação, que possuem outros veículos de mídia. Pelo menos 21 dos grupos (ou seus acionistas) detêm atividades em setores econômicos como estratégicos para o desenvolvimento do país e fundamentais para a população, como educação, setores financeiro e imobiliário, agropecuária, energia, transportes, infraestrutura e saúde.
O latifúndio da mídia (entre os 50 meios analisados) pertencem a 26 grupos: 9 são da Globo, 5 da Bandeirantes, 5 da família Macedo, 4 da RBS e 3 da Folha. Os grupos Estado, Abril e Grupo Editorial Sempre Editora/Grupo SADA possuem 2 veículos cada. Possuem um veículo cada os grupos Sílvio Santos, Jovem Pan, Jaime Câmara, Diários Associados, Comunicação Três, Almicare Dallevo & Marcelo de Carvalho, Ongoing/Ejesa, BBC – British Broadcasting Corporation e EBC – Empresa Brasil de Comunicação.
Também são proprietários de um veículo os grupos Publisher Brasil, Consultoria Empiricus, Grupo Alfa, Grupo Mix de Comunicação/Objetivo, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Adventista do Sétimo Dia, Igreja Católica/Rede Católica de Rádio e INBRAC – Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã.
Fé, política e mídia
No Congresso Nacional, 32 deputados federais e 8 senadores da atual legislatura são proprietários de emissoras. A legislação veda a posse de veículos de mídia a políticos. Além disso, a Record, por exemplo, dirigida pelos controladores da Igreja Universal do Reino de Deus, está por trás de um partido inteiro, o PRB (Partido Republicano Brasileiro). A política está no DNA do Grupo Bandeirantes, que nasceu a partir da relação de seu principal líder, João Jorge Saad, com o ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros (PRP e PSP).
Conforme o levantamento do Intervozes, a participação da religião no sistema mídia cresce desde os anos 1980. Dos 50 veículos pesquisados, 9 são de propriedade de lideranças religiosas cristãs. O Grupo Record, ( RecordTV, RecordNews, Portal R7 e jornal Correio do Povo) pertence ao bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus.
Outros veículos evangélicos listados são a Rede Gospel, pertencente aos bispos Estevam e Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, e a Rede Novo Tempo, lançada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. A Igreja Católica é associada a duas redes, a Rede Católica de Rádio (RCR), e a Rede Vida, gerida pelo INBRAC – Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã.
Globo
O império do Grupo Globo é representado principalmente suas cinco emissoras de televisão de sinal aberto, que segunda maior rede de TV do mundo, perdendo apenas para a ABC, do Estados Unidos, pertencente ao grupo Walt Disney). A emissora foi criada em 1965 por Roberto Marinho, e agora é comandada por seus filhos. Por meio do Infoglobo, a família Marinho controla os jornais O Globo, Extra e o Expresso, e a Editora Globo, que edita 14 revistas, 16 portais e faz 40 eventos anuais.
O poderio dos “Marinho” também abarca o Sistema Globo de Rádio (SGR), e editora, produtora e gravadora voltada para a indústria fonográfica. Na TV para, são 33 canais, incluindo um internacional. O Grupo Globo integra o ranking dos 30 principais proprietários de mídia do mundo, o Zenith Top Thirty Global Media Owners, de 2007. Na edição de 2017 desse ranking, ficou na 19ª posição da lista dos conglomerados, considerando apenas a receita com publicidade.
A Globo sempre manteve relação estreita com o poder político. Segundo o estudo do Interfozes, o grupo teve posição direta na conjuntura que levou à queda do ex-presidente Getúlio Vargas, em 1945, ao seu suicídio, em 1954, e ao golpe civil-militar, em 1964. Em 1965, Roberto Marinho aumento sua influência e poder com a criação da TV Globo, consolidada com o governo civil de José Sarney, em 1985. “O grupo segue influente na política, tendo participação em eventos recentes como a derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT)”, aponta a pesquisa.